domingo, 10 de março de 2013

Amazônia Marajoara (mais uma vez) manda lembranças a Brasília

SÓ SE AMA O QUE SE CONHECE:

VENHA CONHECER O MARAJÓ E APRENDER A GOSTAR DO MAIOR ARQUIPÉLAGO FLUVIOMARINHO DO PLANETA.





este humilde blogue nosso, sem eira nem beira ou ar de graça, apesar de não ter apoio financeiro nenhum e público comparável ao sucesso midiático da blogueira Yoani Sánches, por exemplo, paga para falar mal da heroica ilha de Cuba, não desiste de mandar mensagens a todos e a ninguém a fim de procurar o bem da marginalizada ilha do Marajó no mapa das regiões culturais do Brasil. 

Debalde se tem tentado unir gregos e troianos nas duas margens opostas do Grão-Pará para incutir em corações e mentes governamentais dos dezesseis municípios marajoaras, governo estadual e da União; mas, sobretudo, da própria sociedade brasileira eufórica para gastar seus reais convertidos em dólares e euros no exterior - com fundamento em importantes nomes da arqueologia americana - que o "pobre" Marajó é berço da primeira cultura complexa (pra não dizer civilização) da Amazônia. Que um fato extraordinário como este deveria representar num país emergente como o nosso, ansioso por ocupar justo lugar ao sol no momento que alcança posição de sexta economia do mundo? Será que só vale o que veio de fora e o que é da terra não importa? Com mil demônios, isto é colonialismo da pior espécie!

Ora, o potencial turístico do Marajó é fabuloso... Mas que diabo de turista quer comprar potencial? Noves fora uns poucos produtos turísticos no mercado com pífio resultado socioambiental, resta virgem a natureza e olvidada a cultura marajoara em sua maior riqueza. 

O caso do Museu do Marajó diante do panorama que se apresenta em contraste com a olímpica insensibilidade oficial, lá e cá, é surreal... O turismo literário que faz a festa de Parati, no Marajó é impensável. Pois até a casa do único escritor da ilha agraciado pela Academia Brasileira de Letras deixaram arruinar e cair ao chão na maior indiferença do mundo. O padre Giovanni Gallo, criador do dito museu, completou dez anos de morto em brancas nuvens e o romancista Dalcídio Jurandir festejado em círculos acadêmicos continua desconhecido da sua "criaturada grande" (populações tradicionais ribeirinhas)onde ele poderia ser mestre dos mestres em educação ribeirinha.

porca miséria!

De nada adianta apelar a estudos de Anna Roosevelt e Denise Schaan, para ficar só nestas duas últimas pesquisadoras, para remover da mídia a desinformação dizendo a tal que o búfalo é símbolo do Marajó. Claro, o búfalo é um animal de grande utilidade econômica adaptado às condições naturais da ilha... Poderia ter muito melhor emprego em projetos de erradicação da pobreza das comunidades, entrar em pauta para segurança alimentar local, fomentar produtos orgânicos em economia solidária; daí a ser elevado a símbolo cultural só se não houvesse mais nada a que apelar. Mas, não é o caso nem que a vaca caísse na risada.

CORRE UM BOATO DE QUE O IPEA VEM AÍ

desta feita, a gente quer lembrar à ilustre equipe do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA)que será um prazer vê-la agir nestas paragens pescando resposta às principais questões da monumental contradição: como é possível tão grande potencial render o mísero IDH que a chamada Criaturada grande de Dalcídio ostenta?

a brava gente marajoara está cansada de falar de pobreza. Hora de chegar aos finalmente depois de tantos entretantos... Não é não? 

em 2007, o ex-Presidente Lula com a então Governadora Ana Júlia foram a Breves lançar o PLANO MARAJÓ ("Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Arquipélago do Marajó"). Nunca dantes na história das ilhas do Marajó um presidente da República havia dado as caras para tratar de coisa assim... Geisel foi o primeiro presidente a pisar em Marajó, foi a Soure, para feira agropecuária a convite dos fazendeiros.

Lula, entretanto, foi entregar em Breves o primeiro TAU (título de autorização de uso de terra da União) do projeto Nossa Várzea no Estado do Pará. O "ponta pé" inicial do PLANO MARAJÓ. Adversários do plano, que nunca meteram prego sem estopa para explorar o trabalho aviltado, gritaram logo: presepada eleitoreira do PT!...Talvez eles tivessem razão segundo manda a tradição. O povo de Breves ainda estará lembrado do acontecimento? Hoje algo como 40 mil famílias da regularização fundiária foram amparadas pelo projeto da SPU. O campus local da UFPA, através de atividade de extensão, já tratou deste assunto junto às comunidades ribeirinhas? Onde se separam os interesses públicos e privados dentro do processo de educação para o desenvolvimento sustentável?

Lula despertou as esperanças da gente, agora é Dilma e já se foram dois anos e o "movimento" está devagar quase parando... Será que agora vai pra frente? Tomara.

Não é todos os dias que acontece uma coisa assim nas ilhas dos Marajós. Na verdade, ninguém sabia que aquele simples gesto político ("populista", por suposto segundo a ótica dos contemplados das capitanias hereditárias e seus sucessores e agregados) representou o resgate de uma dívida da União para o povo marajoara, esbulhado de seus direitos territoriais com a malfadada criação da capitania hereditária da Ilha Grande de Joanes (1665-1757). 

Coube o documento histórico entregue pessoalmente pelo Presidente da República a uma humilde mulher moradora do Alto Anajás, nos centros da ilha do Marajó. Nem eu mesmo sei onde se acha o Alto Anajás. O que sei é que a nação dos Anajás com a dos Aruãs foram as principais da federação dos apelidados "Nheengaíbas" que jamais foram vencidos na guerra contra a invasão das ilhas... Por onde andará aquela senhora marajoara com sua família? O que lhe aconteceu depois da visita da força-tarefa do Nossa Várzea com o cadastro que equivale a título de Cidadania brasileira? Sabem os doutores que o matriarcado foi cerne da antiga Cultura Marajoara e que ainda hoje a mulher marajoara tem papel central na família ribeirinha? 

Já dizia Neuton Miranda, gerente regional da SPU e inventor do expedito TAU, falecido em pleno campo de trabalho no Tapajós - depois de séculos das chamadas terras de marinha sendo apropriadas, indevidamente, por "donos" auto intitulados sob a leniência das autoridades públicas - que o papel seria apenas um primeiro passo para inclusão social e econômica dos ribeirinhos.

ele dizia também que, mal ou bem, índios e negros quilombolas já tem reconhecimento público de seus direitos. Mas, o caboco ribeirinho continua sendo pária na sociedade amazônica, invisível, apesar de populacionalmente majoritário pelas periferias das cidades e margens de rios, lagos e igarapés explorado em seu suor e alienado de seus direitos humanos e de cidadão. 

Assegurar a esta gente o território que um dia foi de seus antepassados é a primeira parte do reconhecimento de sua identidade para a inclusão social e o desenvolvimento econômico local sustentável. Claro, não é tarefa simples nem missão exclusiva de determinado governo. É dever do estado de direito democrático e compromisso da sociedade nacional.

PASSOS PARA O PLANO MARAJÓ II (2013-2016)

por isto o alento que o IPEA poderá trazer, antes disposto a vir aprender com a singularidade desta região do que ceder à tentação iluminista que tem aleijado o planejamento regional feito de alto para baixo por tecnoburocratas apressados e surdos.

seria cômico se não fosse trágico o blablablá desses seminários, workshops, colóquios e outras presepadas da modernização conservadora para salvar a Amazônia. Quando a internet se converteu numa formidável universidade aberta e a educação à distância está fazendo fortuna de cursinhos comerciais. Muito se poderia fazer por videoconferência, até mesmo o Instituto Lula se quisesse poderia chegar no Alto Anajás, pelo milagre da internet banda larga, para saber como vai passando aquela gente do Nossa Várzea.

com o somatório de acertos e erros amealhados no processo de desenvolvimento territorial federativo na Amazônia paraense, entre 2003 até 2012, já se poderia repensar a questão da pobreza e desigualdade das regiões amazônicas, com ênfase no caso Marajó, um dia mencionado para ser piloto do esquecido PAS (plano Amazônia Sustentável).

Claro que o IPEA deve pensar a economia do Pará em um contexto mais amplo. No que tange ao Marajó a integração com o Amapá e a fronteira do Oiapoque é inevitável, posto que ela existe de fato há mais tempo que o próprio descobrimento do Brasil, em 1500. É disto que se trata, em contraponto ao mito do "país jovem" sem memória de sua ancestralidade pré-colombiana. 

Eis que a famosa ilha do Marajó é monumento natural (não declarado) para lembrar aos brasileiros que mais de mil anos nos contemplam na comunidade de nações da América do Sul e do Caribe.

a questão marajoara, todavia, se trata no campo da economia. Mas, não há de ser mais do mesmo. Natureza e cultura aí são os principais insumos e o "savoir faire" da gente marajoara o capital humano indispensável. Inovação tecnológica com saber popular acontece todos os dias sem que as elites prestem atenção.

por isto, a criação da UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARAJÓ é fundamental. 

uma universidade marajoara, no bojo do PLANO MARAJÓ II, inspirada - sem nenhuma dúvida - na autossuficiência da primitiva "universidade pés descalços" inventada pelos índios há 1500 anos atrás (conforme diz a arqueologia marajoara).

com a inovadora universidade marajoara, como rebocador do desenvolvimento territorial na Amazônia Marajoara, surgiria uma nova mentalidade na região beneficiando as duas capitais estaduais. E, por conseguinte, todo delta-estuário do maior rio do mundo. Um novo Nilo surgiria na América neste século. Por que não? Pobreza gera pobreza. Precisamos pensar grande sem medo de ser feliz.

sugestão de pauta para desenvolvimento inclusivo no Marajó:

  • conclusão dos preparativos para candidatura da área de proteção ambiental de que trata o Parágrafo 2º,VI, Artigo 13 da Constituição do Estado do Pará à modalidade de conservação ambiental 'reserva da biosfera', no programa mundial "O Homem e a Biosfera", da UNESCO. O bioma entre as Amazônia verde e Amazônia azul protegido, favorece a implementação de ZEE (zoneamento ecológico-econômico) da região estuarina com vantagem para produtos certificados, com exemplo do Queijo do Marajó e carne de búfalo em empreendimentos com participação da comunidade.
  • fomento de atividades turísticas de base na comunidade, entre outras modalidades. O Museu do Marajó ou rede de entidade culturais integrando os municípios poderá ser âncora de um mercado turístico mais interessante do ponto de vista da geração de renda e empregos locais.
  • complementação do projeto Nossa Várzea por planos de manejo coletivos, associação e/ou cooperativas de crédito destinadas ao fomento sócio-econômico local; formação de parcerias público-privadas para comercialização de produtos agroextrativistas e da agricultura familiar certificados por selo do programa Brasil Sem Miséria.
  • verificação das metas do Milênio com vistas ao fim de prazo, em 2015, nos dezesseis municípios do território federativo do Marajó.
  • parceria técnica com as prefeituras e câmaras municipais, através de entidade intermunicipal do Marajó, destinada à formação de uma moderna comunidade de municípios capaz de interagir mais prontamente com as ações executivas estaduais e federais, assegurando transparência e participação popular.
  • a internet de velocidade Banda Larga chegando a todas as ilhas do delta-estuário é questão estratégica de maior urgência sob todos pontos de vista.
  • por fim, a saúde e educação no Marajó devem ser integradas com o saber tradicional e o conhecimento científico e tecnológico moderno. A criação da UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARAJÓ, em sistema multicampi cobrindo todas sedes municipais, neste sentido, será de grande importância como elemento coordenador do território estendendo-se a mais de 500 "aldeias" (comunidades locais, no interior dos municípios) e cerca de 1700 ilhas. Em tais lugares, escola e posto de saúde deverão funcionar em plena sintonia interligados aos sistemas nacional e estadual de saúde, educação e cultura.

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